Humanecer

Blog

Liderança feminina: a importância do protagonismo das mulheres no mercado de trabalho

Nasci em uma família de muitas mulheres com qualidades ímpares: autônomas, longevas, fortes e absolutamente unidas. Minha avó materna, Eliza Rocha Forti, tem 103 anos, saudável e de uma lucidez ímpar. Minha mãe, Zilda Forti Chitero, desde muito cedo trabalhou para poder ingressar na Universidade, construiu uma carreira admirável como pedagoga e criou 3 filhas, sendo eu a mais velha.

Essa breve descrição já diz muito sobre como o protagonismo feminino e a liderança foram temas que herdei da minha ancestralidade.

Liderança feminina: a importância das mulheres que vieram antes

Minha mãe nos incentivou a sermos independentes e a buscar nossos objetivos na vida através de uma base moral sólida, dos estudos, do planejamento em todas as suas esferas, incluindo planejamento financeiro.

Acredito que ela nem tem consciência do quanto cada detalhe da educação que transmitiu me levou a ter sucesso na carreira e na vida.  Por isso, acredito muito que liderança se aprende, em primeira instância, na prática da vida cotidiana, no exercício diário de sermos nossa melhor versão neste mundo, desse aperfeiçoamento contínuo, desse lapidar de alma. E liderar a si mesmo é a base estruturante desse exercício. 

Quando conseguimos compreender em profundidade este aspecto, todas as transições a partir daí, preconizadas por Ram Charan, na minha experiência de vida, tornam-se bem mais fáceis.

Como cheguei até aqui? A trajetória

Liderar a mim mesmo foi um aspecto que se manifestou muito cedo: aos 15 anos fiz meu primeiro exercício de planejamento de vida e carreira. Listei quais Universidades eu prestaria vestibular, quais possíveis carreiras a seguir e tinha São Paulo já mapeada como meu destino pós formatura.

Deste momento até agora, eu sigo atualizando esse plano, ano após ano, objetivo após objetivo. Um exercício essencial e contínuo na prática da liderança.

Na medida em que fazemos este exercício, nos projetamos para o futuro, tomamos consciência de onde teremos que empregar mais esforços, de quais são os elementos de transformação necessários para evolução e também de que o tamanho do nosso potencial é ilimitado.

E, consequentemente, quanto mais aprendemos a fazer isso para nós mesmos, mais fácil fica apoiarmos nossas equipes neste processo.

Aliar este aprendizado que vai acontecendo ao longo da vida com conhecimento e conceito (em suas diversas dimensões: sejam na esfera técnica, de negócios ou na esfera humana), é a combinação mais potente para se formar um líder. 

Liderança e protagonismo andam muito juntos, difícil dissociar. E novamente minha memória percorre o momento onde vivi minha primeira lição sobre protagonismo.

Dessa vez, quem entra na história é meu pai, que me convidou a assumir meu primeiro desafio de vida adulta: explicar ao meu avô paterno porque uma menina, menor de idade, iria morar sozinha e longe da família para poder ir para a Universidade.

No final da década de 80, vivendo em uma família de valores bastante tradicionais, no interior do Estado de São Paulo, isso era bastante disruptivo.

Obviamente eu já tinha respondido ao meu pai que com ou sem o consentimento do meu avô, minha decisão estava tomada. Para total surpresa do meu pai, meu avô não só concordou como se emocionou ao me dizer que dentre seus 5 filhos homens, nenhum deles tinha tido a coragem e a iniciativa de desbravar o mundo como eu.

Naquele momento, meu avô não só me dava sua bênção para a minha mudança, como também fortalecia em mim um mantra que levo comigo todos os dias desde então: estamos onde nos colocamos!

E embalada por esse mantra fui me colocando como protagonista da minha carreira e da minha vida, ocupando com força e delicadeza cada vez mais espaço entre os homens, engenheiros, mais velhos e experientes que eu, que eram maioria nas primeiras corporações onde atuei.

Nunca abandonei meu feminino para poder ser ouvida. Pelo contrário, quanto mais dava voz a ele, associado a um processo contínuo de aprendizado e construção de “background” de negócios e de pessoas, mais eu conseguia navegar no universo essencialmente masculino das organizações no início dos anos 2000.

Minha decisão de sair da casa dos meus pais tão cedo, para ter acesso ao melhor que a educação formal pudesse me dar, não só sedimentou as bases para o sucesso da minha carreira como abriu espaço para que minhas irmãs e minhas primas pudessem fazer escolhas de vida diferente das mulheres das gerações anteriores.

E conforme fui avançando em minha carreira como líder, fui também me colocando nesse lugar de abrir espaço para que outras mulheres pudessem exercitar suas escolhas.

E agora, em uma nova fase pessoal e profissional, espero conseguir ainda mais materializar o mantra: estamos onde nos colocamos! E seguir fortalecendo as pessoas e organizações a construir um mundo do trabalho mais integrado do ponto de vista da diversidade, mais sustentável do ponto de vista dos negócios e mais humano sob a perspectiva das relações.

Artigo escrito por Elisângela Forti Chitero