Vamos falar da crise? É impressionante como esse assunto é atemporal, já que a busca pelos mares calmos e o medo da tempestade é uma constante na nossa sociedade. Podemos falar de grandes crises econômicas, políticas, humanitárias… E nelas, algumas coisas se repetem: pessoas buscam formas de reduzir sua insegurança e incerteza. Neste momento, a Americanas pediu recuperação judicial depois de um rombo de 40bi; grandes empresas que “voavam” no mercado anunciaram demissões em massa; o crédito é escasso e mesmo gigantes que tiveram lucros bilionários estão com medo (cof cof Google com demissões em massa + a ameaça do ChatGPT). Dá para cortar a insegurança com uma faca. E essa insegurança seria um mecanismo normal e saudável de defesa… Se o medo não gerasse paralisia. Em cenários de crises econômicas, paralisia é veneno. Mas começar a se debater também não é a solução. É nestes momentos onde uma leitura de cenários e visão estratégica fazem toda a diferença. E é isso que separa líderes de pessoas que ocupam cargos de chefia. Se você está num cargo de liderança, eu espero que, dado o cenário acima, você já tenha tomado as seguintes atitudes: Chamado seu time para conversar de forma síncrona sobre os movimentos do mercado e como isso afeta o trabalho de vocês; Revisado todos os seus objetivos estratégicos e métricas a serem atingidas, discutindo com seus liderados onde precisamos ser mais conservadores, onde precisamos de estratégias de defesa, e onde temos oportunidades que não existiam há 2 meses atrás; Revisado papéis e responsabilidades frente a estes novos desafios; conectando inclusive os pontos de desenvolvimento das pessoas que mais serão necessários dado o cenário atual; Mapeado seus stakeholders dentro e fora da organização, além de iniciar um contato com as pessoas mais críticas, garantindo seu apoio e colaboração Realinhado com a sua própria liderança sobre os seus desafios, onde temos gaps e como a sua contribuição é vista para a estratégia da empresa. Crise após crise, vejo a liderança de muitas organizações buscando abaixar a cabeça e apenas enxugar custos, esperando a fase ruim passar. Quando iniciou o primeiro lockdown do Covid, eu fiz um apelo a todas as lideranças de produto, e hoje faço um novo apelo a você, que está em um cargo de liderança: mova-se. Se você está olhando para seus projetos, investimentos, roadmaps, e apenas buscando cortar custos, leia isso como um mau sinal. Isso significa que você não apenas está cego para as oportunidades das crises econômicas, como também entrou em um modo de sobrevivência, onde deixamos de ter a empatia como diferencial estratégico do nosso negócio. Esta empatia não é algo fluffy, e sim um mecanismo de alavancagem de resultados. Entender o que impacta a segurança psicológica dos seus funcionários habilita você a melhorar a produtividade. Entender como seus clientes estão sofrendo com a crise habilita você a oferecer soluções inovadoras, que não surgiriam de outra forma. A ideia que a empatia é algo que fazemos em prol de marca e só depois que as contas estão pagas é um dos maiores riscos à prosperidade de uma empresa, e fruto de uma liderança pautada em posturas tóxicas e ultrapassadas. Esta empatia nos negócios não significa ausência de firmeza, pelo contrário. Exige imensa firmeza e coragem para trabalhar nos pontos que listei acima. É muito mais confortável se refugiar atrás dos números e depois apenas comunicar “você foi demitido devido a cortes orçamentários. Não é você, é o momento da empresa”. Mesmo quando fazemos cortes em massa, temos critérios que nos guiam na decisão de por que demitir uma pessoa e não a outra. Se você tivesse que fazer um corte hoje, seus liderados seriam pegos de surpresa pelo seu critério de escolha? Se sim, você está falhando em esclarecer os pontos de melhoria e o valor que cada pessoa agrega para a estratégia da organização. Eu não estou dizendo que cortes são plenamente evitáveis. Eu mesma já fui protagonista desta decisão em alguns momentos ao longo da minha carreira como líder. Mas à medida que eu amadurecia no papel, entendi que o medo de conflitar e deixar a pessoa desconfortável por esclarecer expectativas e performance não podem jamais ser justificativa para que aconteça de o liderado sair da empresa sem saber por que ele, e não qualquer outra pessoa. Isso causa um impacto na autoconfiança do profissional, e mina a confiança do time no líder. É por isso que, neste momento, todos os líderes precisam estar se mexendo. É deles o papel mais crucial, e que determinará, de forma sistêmica, se a crise será uma tragédia ou uma oportunidade. escrito por Andressa ChiaraLiderando em meio a crises econômicas: diferença de chefe para líder
Empatia não é “ser fofo”